Palmas (TO), Segunda-feira, 06 de Maio de 2024

FILANTROPIA

Não é mito: lacres das latas de alumínio “viram” mesmo cadeiras de rodas

Além de colaborar para a gestão do lixo, várias iniciativas de coleta dos anéis de metal pelo país ajudam pessoas com dificuldade de locomoção

18/01/2023

10:00

EXAME

O Brasil consome 33 bilhões de latas de alumínio por ano (dado de 2021): imagine quantos lacres poderiam ser vendidos para reciclagem e convertidos em cadeiras de rodas ©Andy Kirby

Possivelmente, você já viu alguém juntar lacres de latas de alumínio em casa ou soube de alguma campanha de coleta desses anéis. São várias iniciativas do tipo pelo país, que unem objetivos socioambientais importantes: reduzir o impacto do lixo, garantindo a destinação correta de milhões de lacres, e ,ao mesmo tempo, converter os resíduos arrecadados em ajuda para quem precisa. Uma das ações mais conhecidas é a doação de cadeiras de rodas para pessoas que não têm condições de comprar. 

Mas algumas dúvidas pairam sobre os projetos com lacres das latinhas de alumínio. Uma delas é a respeito do porquê de coletar apenas o lacre, não a lata inteira. Muita gente acredita que o motivo é ele ser mais valioso do que o restante da embalagem, contendo maior concentração de alumínio. 

Na verdade, é o oposto – o lacre contém menos alumínio na composição e, sozinho, ele tem menor valor comercial do que a lata em si. No entanto, as instituições preferem usá-lo para não prejudicar os catadores, para quem as latinhas são importante fonte de renda, e principalmente por uma questão de logística. 

O manuseio dos lacres é mais simples do que o das latas: são fáceis de armazenar, não acumulam líquido nem atraem insetos. Isso descomplica o processo para as pessoas em casa e para quem coordena as iniciativas.

Os anéis de alumínio são transformados em cadeiras? 

Depois que são entregues às instituições, o que acontece com os anéis de metal é outro questionamento comum. Muitos creem que são derretidos para virar uma cadeira de rodas. O que ocorre, porém, é que eles são vendidos para empresas especializadas em reciclagem de alumínio e o valor recebido é utilizado para comprar as cadeiras. 

São necessárias, em média, 140 garrafas pet de 2 litros cheias de lacres para comprar uma cadeira, como explica a equipe do projeto Lacre Solidário, da SPMAR, concessionária que administra os trechos Sul e Leste do Rodoanel, em São Paulo. O movimento existe desde 2017 e já recolheu nas cabines de pedágio mais de 13 milhões de lacres, que resultaram na doação de 31 cadeiras de rodas. 

O equivalente a 140 garrafas pet cheias: esta é a quantidade necessária de lacres para pagar uma cadeira de rodas no projeto Lacre Solidário, da concessionária SPMAR. (SPMAR/Divulgação)Sob medida para crianças e adolescentes

Para mostrar como os lacres “se transformam” em cadeiras, o Instituto Entre Rodas, de São Paulo, criou a campanha #NÃOÉMITO. Os esforços para coleta de lacres da organização completaram cinco anos, contabilizando 72 milhões de unidades coletadas e 87 cadeiras entregues a crianças e adolescentes. 

Lá, as cadeiras doadas são de um modelo diferenciado, fabricado em alumínio aeronáutico, que é mais leve e resistente, e produzidas sob medida.

“Fizemos um levantamento e descobrimos que as cadeiras geralmente doadas não atendiam às especificidades de cada pessoa com deficiência, além da qualidade. Muitas são de ferro e extremamente pesadas, o que dificulta a independência, autonomia e mobilidade”, diz Eliane Lemos, fundadora do instituto.

Cadeira personalizada doada a crianças e adolescentes pelo Entre Rodas, graças aos recursos obtidos com a venda dos anéis de alumínio. (Entre Rodas/Divulgação)Ela esclarece que na métrica comum, de 140 garrafas pet de 2 litros (112 kg), o valor arrecadado com a venda dos lacres está longe do suficiente para uma cadeira personalizada como as que o Entre Rodas doa. Por isso, é necessária a venda de um volume bem maior de anéis, de 625 garrafas pet (500 kg). 

A cadeira ambulatorial da maioria dos projetos, segundo ela, custa R$ 350, enquanto a personalizada sai por R$ 5.400. “Esse preço é ainda da tabela de 2017 e nós pagamos 50% (R$ 2.700) e a empresa Alphamix assume os outros 50%”, pontua.

Eliane Lemos, do Instituto Entre Rodas, com uma das crianças contempladas pelo projeto Inclusive Você, que usa a venda de lacres de latinhas para doar cadeiras de rodas. (Entre Rodas/Divulgação)

Para descartar latas no lixo reciclável é preciso tirar o lacre?

Caso o lacre não seja doado para projetos socioambientais como esses, a dúvida mais comum é se ele deve ser removido da lata mesmo assim. Segundo a Prefeitura de São Paulo, a embalagem deve ser descartada inteira no lixo reciclável, com o anel preso. Por essa parte ser menos pura em alumínio, ela perde valor comercial na reciclagem se não estiver anexada à latinha. 

Mais de 33 bilhões de latas foram consumidas no ano passado no país, de acordo com a Associação Brasileira dos Fabricantes de Latas de Alumínio (Abralatas), e 98,7% foram reaproveitadas, o recorde mundial. 

Para continuarmos como líder global em reciclagem desse produto, é importante, portanto, que as latinhas sigam inteiras para a coleta seletiva e que os lacres sejam retirados só em caso de doação, em que terão a destinação certa do mesmo modo. 

“A doação colabora com a construção de uma sociedade mais justa e igualitária para as pessoas com qualquer tipo de deficiência e ainda colabora com a preservação da natureza, o que automaticamente também impacta economicamente a sociedade”, defende Eliane Lemos. 

“Com a campanha conseguimos impactar o meio ambiente de maneira muito positiva, recolhendo um resíduo presente na maioria das casas e promovendo a logística reversa, e ainda promover a mobilidade e inclusão de pessoas em vulnerabilidade social. Um ciclo completo que nos enche de orgulho”, comenta Ricardo Sampaio, gerente socioambiental da SPMAR.

Para saber mais sobre os projetos, pontos de coleta e quem pode se candidatar para receber a cadeira, acesse o site do Entre Rodas e do Lacre Solidário.

 

 


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