MUNDO
Ucrânia e Europa rejeitam proposta de paz imposta por Trump e Putin
Negociação sem Kiev gera tensão global; Trump propõe concessões territoriais e exclusão da Ucrânia da Otan
13/02/2025
20:00
NAOM
DA REDAÇÃO
©DIVULGAÇÃO
A proposta de paz para a guerra na Ucrânia, sugerida pelo ex-presidente dos EUA Donald Trump ao líder russo Vladimir Putin, gerou forte reação internacional. A União Europeia e o governo ucraniano rejeitaram a ideia de um acordo sem a participação direta de Kiev, classificando-a como uma tentativa de paz imposta.
Na última quarta-feira (12), Trump ligou para Putin em uma conversa de uma hora e meia, após tentativas anteriores de negociação terem sido rejeitadas por Moscou. O ex-presidente dos EUA propôs um encontro presencial na Arábia Saudita, onde discutiria um acordo de paz que inclui a perda de territórios ucranianos para a Rússia e a exclusão da Ucrânia da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).
“A Ucrânia nunca será admitida na Otan”, declarou Trump, sinalizando que um eventual segundo mandato seu manteria a posição favorável a Moscou sobre o conflito.
A reação ucraniana foi imediata. O presidente Volodymyr Zelenski alertou que o Ocidente não deve acreditar na disposição de Putin em encerrar a guerra, afirmando que qualquer cessar-fogo que envolva a perda de território ucraniano seria inaceitável.
Líderes europeus também rejeitaram qualquer acordo feito sem a participação de Kiev. Kaja Kallas, chefe da diplomacia da União Europeia, declarou que “qualquer acerto feito por trás das nossas costas não funcionará” e alertou para os riscos de um acordo precipitado:
“Um acordo rápido será um acordo sujo. O apaziguamento não funcionará. Se a Ucrânia decidir resistir, estaremos com ela”.
O chanceler alemão Olaf Scholz reforçou que os EUA são peça-chave nas negociações, mas destacou que uma paz imposta não é uma solução viável.
A iniciativa de Trump gerou críticas dentro e fora dos EUA. O secretário de Defesa do ex-presidente, Pete Hegseth, negou que a negociação seja uma traição à Ucrânia, destacando que Trump também consultou Zelenski sobre o acordo.
“O presidente Trump não permitirá que ninguém transforme o Tio Sam em ‘Tio Otário’”, disse Hegseth, reforçando que os EUA manterão uma postura firme nas negociações.
O chanceler ucraniano Andrii Sibiha, por sua vez, enfatizou que nenhuma decisão sobre a Ucrânia pode ser tomada sem a participação da Ucrânia. Ele também reafirmou que a admissão na Otan continua sendo a melhor forma de garantir a segurança do país, embora a aliança tenha evitado tomar uma decisão definitiva sobre o assunto.
O secretário-geral da Otan, Mark Rutte, tentou equilibrar a discussão, afirmando que a aliança está unida e que qualquer acordo de paz deve envolver Kiev. No entanto, ele admitiu que a entrada da Ucrânia na Otan nunca foi uma prioridade nas negociações, contradizendo declarações anteriores do bloco militar.
“Putin é um negociador forte, muito imprevisível, mas, se queremos chegar a um acordo de paz, precisamos dele na mesa”, afirmou Rutte, sugerindo uma abordagem mais pragmática da Otan em relação à Rússia.
Enquanto isso, o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, afirmou que Putin e Trump estão dispostos a encerrar o conflito, mas não detalhou como a Ucrânia será integrada às negociações.
“De uma forma ou de outra, a Ucrânia fará parte do processo. Mas existe uma via bilateral entre Rússia e EUA”, disse Peskov, reforçando a posição de Moscou de que Kiev não tem poder de decisão sobre o futuro do conflito.
Além das dificuldades externas, Zelenski enfrenta desafios dentro da Ucrânia. Nesta quinta-feira (13), ele editou um decreto sancionando o ex-presidente Petro Porochenko, um dos seus principais opositores políticos.
Porochenko, líder do maior partido de oposição, teve seus bens congelados sob a alegação de que suas atividades “minavam a segurança nacional”. O Serviço de Segurança da Ucrânia justificou a medida afirmando que os recursos do ex-presidente deveriam ser utilizados para a defesa do país.
“Os bilhões acumulados à custa da Ucrânia precisam ser bloqueados e direcionados para proteger nosso povo”, afirmou Zelenski, que vem perdendo popularidade e enfrenta acusações de tentar se perpetuar no poder através da lei marcial.
O presidente russo Vladimir Putin já explorou a instabilidade política ucraniana, afirmando que Zelenski não é um líder legítimo para negociar um acordo de paz.
O mercado financeiro reagiu positivamente às notícias sobre possíveis negociações. O rublo russo valorizou-se e atingiu o maior patamar desde setembro, enquanto os títulos soberanos da Ucrânia tiveram ganhos expressivos.
Enquanto as negociações seguem indefinidas, a guerra no leste da Ucrânia continua intensa. O Ministério da Defesa da Rússia anunciou a tomada de mais uma cidade na região, consolidando o controle de quase 20% do território ucraniano, incluindo a Crimeia.
A próxima etapa das conversas ocorrerá na Conferência de Segurança de Munique, onde Zelenski e o vice-presidente dos EUA, J.D. Vance, deverão se encontrar para discutir os rumos do conflito.
A proposta de paz de Trump e Putin enfrenta resistência global, especialmente por excluir a Ucrânia das decisões. Enquanto Zelenski luta para manter sua posição interna e internacional, Rússia e EUA sinalizam interesse em um acordo, mas com termos que favorecem Moscou.
A guerra, que completará três anos no dia 24 de fevereiro, segue sem uma solução definitiva, e o futuro da Ucrânia na Otan continua sendo um ponto de conflito central.
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