Política / Justiça
PF aponta Bolsonaro e Carlos como líderes da ‘Abin paralela’ que espionou opositores e atacou urnas
Relatório entregue ao STF identifica quase 1.800 celulares monitorados ilegalmente; organização teria usado tecnologia israelense para beneficiar o núcleo político da família Bolsonaro
19/06/2025
09:15
DA REDAÇÃO
©DIVULGAÇÃO
A Polícia Federal (PF) apontou o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) como líderes de uma organização criminosa que teria operado uma estrutura clandestina de espionagem dentro da Agência Brasileira de Inteligência (Abin).
De acordo com o relatório entregue ao Supremo Tribunal Federal (STF), ambos comandaram ações de monitoramento ilegal de autoridades, adversários políticos, jornalistas e até integrantes do Judiciário. O objetivo seria proteger interesses pessoais e familiares, interferir em investigações e desacreditar o sistema eleitoral.
O documento, que teve o sigilo retirado por ordem do ministro Alexandre de Moraes, traz detalhes sobre a chamada "Abin paralela", estruturada durante o governo Bolsonaro. Segundo a PF, o ex-presidente era "o centro decisório e o principal destinatário das vantagens ilícitas", enquanto Carlos é apontado como "idealizador da inteligência paralela", responsável por direcionar os alvos e o uso das informações coletadas.
Entre fevereiro de 2019 e abril de 2021, o esquema teria utilizado o programa israelense First Mile, que explora vulnerabilidades nas redes de telefonia 2G e 3G para rastrear celulares sem autorização judicial.
A investigação aponta que, no período, 1.796 terminais telefônicos foram monitorados ilegalmente, gerando 60.734 consultas. Foram usadas 34 credenciais do software, permitindo uma ampla rede de espionagem.
As vítimas foram classificadas em oito categorias:
Geral;
Servidores do TSE e institutos de pesquisa;
Poder Judiciário;
Poder Legislativo;
Ministério Público;
Servidores públicos em geral;
Proteção ao núcleo político;
Contexto não identificado.
O relatório de 1.125 páginas, assinado pelo delegado Daniel Carvalho Brasil Nascimento, da Divisão de Operações de Inteligência Cibernética da PF, organiza a investigação em seis núcleos:
Núcleo político (liderado por Bolsonaro e Carlos);
Comando e alta gestão;
Assessoria e execução de ações clandestinas;
Estrutura operacional de inteligência;
Produção e propagação de fake news;
Embate e obstrução das investigações.
O núcleo político, segundo a PF, era composto pelos beneficiários diretos das atividades ilícitas, especialmente o próprio Jair Bolsonaro e seu filho Carlos.
“O esquema clandestino servia para proteger o núcleo familiar e obter vantagens políticas. As ações miravam adversários, autoridades públicas e o sistema eleitoral brasileiro”, afirma o documento.
A Polícia Federal afirma que a estrutura clandestina foi usada para:
Acompanhar investigações contra Flávio Bolsonaro (caso da rachadinha);
Monitorar o vereador Jair Renan Bolsonaro, investigado por tráfico de influência;
Revisitar a investigação da facada em Bolsonaro em 2018, buscando uso político nas eleições de 2022;
Produzir dossiês e levantar informações sobre servidores do TSE, ministros do STF e opositores do governo.
Ao todo, 36 pessoas foram indiciadas, incluindo ex-diretores da Abin, agentes e outros colaboradores do esquema.
O ex-presidente Jair Bolsonaro, embora apontado como líder da organização criminosa, não foi formalmente indiciado nesse inquérito, pois já responde por organização criminosa em outro processo.
O relatório agora está nas mãos do ministro Alexandre de Moraes, que decidirá os próximos passos, podendo determinar novas diligências, apresentar denúncias ao Ministério Público Federal ou arquivar parte das investigações.
Até o fechamento desta reportagem, nem a defesa de Jair Bolsonaro, nem de Carlos Bolsonaro, haviam se pronunciado sobre as conclusões da Polícia Federal.
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