Política / Justiça
Servidor do INSS denunciou esquema de descontos ilegais ainda em 2020, mas investigação só resultou em operação cinco anos depois
Crescimento anormal da Conafer foi alertado por servidor que recebeu ameaças; Polícia Federal só agiu em 2025
14/05/2025
19:47
DA REDAÇÃO
©REPRODUÇÃO
Uma denúncia feita por um servidor do INSS ainda em 2020 revelou irregularidades nos descontos de aposentados e pensionistas, apontando um esquema que envolvia a Conafer (Confederação Nacional de Agricultores Familiares). A denúncia, feita à Polícia Federal, só resultou em ação efetiva cinco anos depois, com a operação de abril de 2025 que levou à queda do presidente do INSS e do ministro da Previdência.
O servidor, que atuava na Diretoria de Benefícios do INSS, procurou a Polícia Federal do Distrito Federal em setembro de 2020, após receber ameaças de morte. Segundo o depoimento, ele foi ameaçado no momento em que uma auditoria interna começou a cortar contratos e suspender descontos associativos, incluindo os da Conafer.
“Alguns servidores receberam ameaças. O coordenador e o diretor que estavam na auditoria dos ACTs (Acordos de Cooperação Técnica) foram ameaçados justamente quando estavam auditando os descontos”, afirmou o denunciante, em condição de anonimato.
Mesmo com os indícios, a investigação da PF foi encerrada sem indiciamentos em 2024.
O servidor relatou que a Conafer saltou de 80 mil filiados com descontos no INSS em janeiro de 2020 para mais de 250 mil em outubro, mesmo estando com o contrato suspenso nesse período.
A CGU confirmou em relatório de 2024 que a Conafer liderou o crescimento no volume de descontos: de R$ 400 mil (2019) para R$ 202 milhões (2023).
O acordo da Conafer com o INSS foi suspenso em setembro de 2020 por suspeitas de irregularidades, mas foi reabilitado após mudança interna no órgão, promovida pelo então presidente do INSS, Leonardo Rolim. Ele transferiu a análise dos contratos da Diretoria de Benefícios para a Diretoria de Atendimento, sob responsabilidade de Jobson de Paiva Sales, que posteriormente foi homenageado pela própria Conafer.
Em depoimento à Polícia Civil em 2021, o presidente da Conafer, Carlos Roberto Lopes, não esclareceu rendimentos e atribuiu as irregularidades à Dataprev, empresa federal responsável pelo processamento da folha de pagamentos do INSS.
Investigações revelaram ainda que Carlos e sua esposa, Bruna Braz, negociaram cinco imóveis, entre eles uma fazenda de R$ 3 milhões, no auge dos descontos.
Em 2021, a Justiça determinou que a Polícia Federal assumisse o caso, mas apenas em 2025 foi deflagrada a operação que expôs o esquema de fraudes. A ação culminou com a queda de autoridades federais.
Leonardo Rolim alegou que a reestruturação do INSS em 2020 foi uma medida técnica e que deixou o cargo em outubro de 2021, sem conhecimento do que ocorreu com os contratos posteriormente.
A Conafer e seus representantes não responderam aos contatos da imprensa. Jobson de Paiva Sales também não foi localizado.
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