Política / Relações Exteriores
Após tarifaço de Trump, Bolsonaro provoca Lula e é acusado de articular retaliação ao Brasil
Citação bíblica, bastidores nos EUA e disputa de narrativas intensificam crise política entre bolsonarismo e Planalto
09/07/2025
19:45
DA REDAÇÃO
©ARQUIVO
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) publicou nesta quarta-feira (9) uma indireta ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), logo após o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciar uma tarifa de 50% sobre todos os produtos brasileiros exportados aos EUA. Em seu perfil nas redes sociais, Bolsonaro citou um versículo bíblico:
“Quando os justos governam, o povo se alegra. Mas quando os perversos estão no poder, o povo geme” — Provérbios 29:2.
A mensagem foi interpretada como uma provocação direta a Lula e veio poucas horas após Trump enviar uma carta oficial ao governo brasileiro, na qual o republicano justifica a nova tarifa por supostas violações à liberdade de expressão nos EUA atribuídas ao Supremo Tribunal Federal (STF) e critica o julgamento de Bolsonaro por tentativa de golpe de Estado, classificando-o como uma "vergonha internacional".
A carta de Trump gerou forte repercussão em Brasília. Aliados de Bolsonaro passaram a culpar o governo Lula pela retaliação, argumentando que a gestão petista promove uma política externa hostil aos Estados Unidos, com aproximação à China, Irã e Brics, e ações internas contra plataformas digitais americanas.
Nos bastidores, parlamentares da oposição têm apelidado a medida de "Tarifa-Moraes", numa tentativa de responsabilizar o ministro do STF Alexandre de Moraes, cujas decisões em inquéritos contra Bolsonaro são criticadas por bolsonaristas.
No Palácio do Planalto, porém, a avaliação é oposta. Fontes do governo afirmam que o tarifaço foi incentivado por aliados de Bolsonaro, especialmente pelo deputado licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que está em missão informal nos EUA.
Segundo esses interlocutores, Eduardo teria atuado junto a assessores de Trump para pressionar o Brasil, em uma tentativa de internacionalizar a crise judicial do pai e deslegitimar as ações do STF.
A nota divulgada por Eduardo nesta quarta reforçou essa suspeita, ao afirmar que a tarifa de Trump seria uma reação aos “abusos de Alexandre de Moraes” e, por isso, chamou a medida de “Tarifa-Moraes”.
O clima de embate político se intensificou nas redes sociais. Enquanto bolsonaristas tentam associar o tarifaço a falhas diplomáticas do governo, o PT e governistas responderam com uma nova frase-slogan:
“Lula quer taxar os super-ricos. Bolsonaro quer taxar o Brasil.”
A estratégia busca reforçar a ideia de que a articulação do ex-presidente com Trump seria um ato de traição ao país, utilizando influência externa para intervir em questões judiciais internas — com impacto direto na economia brasileira.
Em resposta oficial publicada na rede X, Lula repudiou a carta de Trump e afirmou que o Brasil é um país soberano, com instituições independentes:
“O processo judicial contra aqueles que planejaram o golpe de Estado é de competência da Justiça Brasileira e não está sujeito a ingerência ou ameaças.”
O presidente destacou que a liberdade de expressão no Brasil não pode ser confundida com discurso de ódio, fake news ou ataques à democracia, e que a suposta alegação de déficit comercial dos EUA com o Brasil é falsa. Segundo dados do próprio governo americano, os EUA acumularam superávit de US$ 410 bilhões em 15 anos na balança bilateral.
Lula finalizou com um recado firme:
“Qualquer medida de elevação de tarifas de forma unilateral será respondida à luz da Lei brasileira de Reciprocidade Econômica.”
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