Política / Justiça
Cem dias sem solidão: confinamento de Bolsonaro mistura isolamento, fé e articulações políticas nos bastidores da direita
Mesmo em prisão domiciliar desde 4 de agosto, ex-presidente mantém rotina de visitas, cultos e conversas sobre as eleições de 2026, enquanto aguarda decisão final do STF
12/11/2025
07:15
DA REDAÇÃO
©DIVULGAÇÃO
A prisão domiciliar do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) completou cem dias nesta terça-feira (12), e, apesar das restrições impostas pelo Supremo Tribunal Federal (STF), o confinamento tem sido tudo, menos solitário. Desde 4 de agosto, quando o ministro Alexandre de Moraes determinou as medidas cautelares, Bolsonaro recebeu 69 visitantes em 62 ocasiões — entre políticos, religiosos e familiares.
De acordo com levantamento do Metrópoles, baseado em despachos judiciais que autorizam as visitas, o ex-presidente passou mais tempo acompanhado do que sozinho. Na mansão do Solar de Brasília, onde vive com Michelle Bolsonaro e a filha Laura, o fluxo de aliados é constante. O local tornou-se centro de peregrinação política e religiosa, com vigilância policial permanente.
Embora a casa abrigue orações semanais conduzidas por Michelle, com até 16 participantes fixos, a maioria das visitas é de caráter político. O presidente do PL, Valdemar Costa Neto, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP) e o senador Rogério Marinho (PL-RN) estão entre os nomes que mais frequentaram o local.
O grupo de oração liderado pela ex-primeira-dama, que reúne pastores e parlamentares evangélicos como Thiago Manzoni (PL-DF), tornou-se o evento mais recorrente da agenda doméstica de Bolsonaro — já foram sete encontros religiosos em cem dias.
Nos bastidores, porém, as conversas vão além da fé: discutem-se estratégias eleitorais, o projeto de anistia dos réus do 8 de Janeiro e os possíveis rumos da direita nas eleições de 2026.
Bolsonaro foi colocado em prisão domiciliar após descumprir restrições impostas por Moraes, que o proibiam de se comunicar publicamente e de manter contato com diplomatas e políticos estrangeiros. O estopim foi uma chamada de vídeo exibida em manifestação pró-anistia, feita por Nikolas Ferreira (PL-MG), e um vídeo publicado pelos filhos Flávio e Carlos, o que levou o STF a decretar o recolhimento noturno e o uso de tornozeleira eletrônica.
Desde então, o ex-presidente não pode conceder entrevistas nem usar redes sociais — direta ou indiretamente. Ainda assim, mensagens e recados políticos circulam por meio de intermediários, mantendo sua influência no PL e no Centrão.
Os dias do ex-presidente mesclam orações, encontros políticos e reuniões familiares. Entre os eventos privados, destacam-se o Dia dos Pais, em 10 de agosto, e o aniversário de 15 anos da filha Laura, em 18 de outubro — ambos com autorização judicial.
Os cultos conduzidos por Michelle Bolsonaro se tornaram uma tradição semanal. Os pastores Márcio Trapiá e Dirce Dias, ligados a movimentos cristãos de Brasília, integram o grupo que presta apoio espiritual à família.
Mesmo os eventos religiosos, contudo, mantêm vínculos políticos: o deputado Thiago Manzoni, por exemplo, emprega o coronel Flávio Peregrino, investigado pela Operação Ultima Ratio da Polícia Federal.
Impedido de se comunicar diretamente, Bolsonaro segue articulando os bastidores da oposição. Os encontros com Valdemar Costa Neto, Rogério Marinho, Ciro Nogueira (PP) e Tarcísio de Freitas focam na reorganização da direita e na formação de palanques.
Segundo aliados, o ex-presidente vê Tarcísio de Freitas e Ratinho Júnior (PSD-PR) como os nomes mais competitivos à sucessão presidencial. Ainda assim, insiste em aguardar o desfecho do Projeto de Lei da Anistia antes de anunciar um eventual sucessor.
Internamente, o PL enfrenta divisões. A pré-candidatura de Carlos Bolsonaro ao Senado por Santa Catarina gerou atritos com o senador Esperidião Amin (PP-SC) e evidenciou o desgaste na comunicação entre os filhos de Bolsonaro e o partido.
O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), principal porta-voz do pai, tenta conter disputas internas e manter a unidade entre PL, PP e Republicanos, enquanto Eduardo Bolsonaro (PL-SP) segue nos Estados Unidos, articulando com aliados de Donald Trump e alimentando tensões com o STF.
Desde o início do confinamento, o Solar de Brasília transformou-se em cenário de protestos e vigílias. Apoiadores se reúnem quase diariamente com bandeiras do Brasil e de Israel, enquanto grupos de oposição já chegaram a inflar um boneco de Bolsonaro vestido de presidiário em frente ao condomínio.
O clima de tensão divide os moradores. “Estamos sem sossego em nossas próprias casas”, reclamou uma moradora, em entrevista ao Metrópoles.
O ex-presidente, por sua vez, enfrenta problemas recorrentes de saúde, incluindo episódios de soluços e vômitos relacionados à facada de 2018. Desde agosto, já foi três vezes ao hospital e precisou de atendimento emergencial em casa em 29 de setembro.
Na semana passada, o STF rejeitou por unanimidade os primeiros recursos da defesa na Ação Penal 2.668, que condenou Bolsonaro a 27 anos e 3 meses de prisão por tentativa de golpe de Estado.
Com o julgamento em fase final, o Supremo deve decidir se o ex-presidente deixará a prisão domiciliar para cumprir pena em regime fechado, possivelmente no Complexo da Papuda, em Brasília.
Enquanto aguarda o desfecho, Bolsonaro segue recluso, mas ativo politicamente, transformando a própria casa em centro de decisões e articulações da oposição.
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