Sobre a experiência de existir e viver
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| Por: Ismeni Moura |
Quem não deseja a vida? Quem no seu ritmo e compasso, não deseja a liberdade de um riso genuíno, que flua de uma alma que está em contemplação de liberdade? Quem não deseja a expressão da poesia em sua pele em forma de amor, êxtase e alegria?
Quem não deseja ser simplesmente livre, para encontrar consigo mesmo na simplicidade da verdade, sem a pressão dos padrões e pesos impostos como condições para a felicidade e “ser” no mundo, sejam eles, matérias ou não?
Quem não deseja apenas o encontro da paz em um travesseiro e ser abraçado pelo sono de quem sabe que valerá a pena recomeçar ao amanhecer?
Quem é tão erudito que não sonha com descobertas capazes de devolver o encanto pelo simples, como o olhar de admiração e expectativa de uma criança que se emociona e celebra a vida diante do cotidiano e trivial, porém sempre mágico?
Quem é tão rico que não deseje ser livre para regozijar e celebrar o espetáculo do nascer e pôr do sol, uma noite de luar, o desabrochar de uma rosa, o nascimento de um bebê? Se não vive, não há gratidão e nem encanto diante de tantas manifestações e evidências genuínas de milagres.
Desejamos a vida em profundidade, no entanto vivemos na superficialidade. Viver é um movimento que impulsiona ao crescimento, e para crescer é necessário aprender, e para aprender é necessário humildade para admitir que não sabe, ou que não optou pela melhor escolha. Viver é desistir do erro, abrir mão do orgulho egoísta e excludente que engessa, massifica, anula, exclui e isola a inteligência criativa capaz de cultivar o amor, a tolerância e o perdão.
Cristo nos ensinou o caminho da vida abundante, que só acontece na dinâmica da liberdade; no entanto, paradoxalmente, nos tornamos prisioneiros de nossas carências, culpas, dores, justificativas, crenças, passado, desafetos, insatisfação, comparações, orgulho, vícios, imposições, tradições e tantas outras coisas que roubam a leveza de viver em plenitude. A bem da verdade é que, muitos de nós fizemos de nossos corpos, túmulos de nossa própria vida. Sepultamos nosso propósito diante de nossas próprias sentenças de morte, uma vez que não permitimos o renascimento diante da existência.
Viver é fazermos dos nossos dias um movimento a caminho da maturidade, isso não acontece sem luta e não há luta sem dor. No entanto, a dor de quem sabe porque e para que a vive, será sempre semente lançada em terra fértil. O sabor do fruto será sempre superior ao tempo do arado e da espera. Viver é sentir a vida com seus lutos, perdas, celebrações e alegrias, porém expressões autênticas esculpidas no caráter de quem tem a pulsação por um ideal que transcende o natural mediante a unidade com o Criador. É compreender-se como uma parte de um projeto infinitamente maior e mais ousado, cujos planos são bem maiores e mais altos do que os nossos.
Jesus nos ensinou que necessário seria nascermos de novo; isso só é possível através do abandono de tudo aquilo que nos mantém no estágio de nossas frustrações e inércia. Portanto, viver implica no enfrentamento do medo e o exercício da fé.
É preciso compreender que viver é muito mais do que existir. Existir é passar pela experiência de ser no mundo como vítima da existência, sendo simplesmente um agente reativo aos eventos que a vida nos impõe, sem experimentar a emoção e pulsação de reinventar a própria existência, ressignificando as perdas e dores em propósito, superação , celebração e êxtase de poder ser e fazer parte de um espetáculo colossal e magnífico que é a vida. Vida esta, que não se fecha e não se limita em um fato e um estágio, mas que no seu movimento processual, surpreende com fontes de águas nos mais improváveis desertos da alma humana.
Por: Ismeni Lima de Moura

