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O que são as doenças que Carla Zambelli afirma que a impediriam de sobreviver à prisão
05/06/2025
07:45
Miliam Comunicação
Angélle Jácomo
A fisiatra Angélle Jácomo explica o que é Síndrome de Ehlers-Danlos (SED) e Síndrome da Taquicardia Postural Ortostática ©Clínica CEHD
Após ser condenada a 10 anos de prisão pelo Supremo Tribunal Federal (STF), a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) deixou o Brasil e alegou publicamente que não suportaria o ambiente carcerário por conviver com duas condições crônicas sérias: a Síndrome de Ehlers-Danlos (SED) e a Síndrome da Taquicardia Postural Ortostática (POTS). Embora pouco conhecidas, ambas as doenças são complexas e impactam profundamente a qualidade de vida dos pacientes.
De acordo com a médica fisiatra Angélle Jácomo, do Centro Especializado em Hipermobilidade e Dor (CEHD), em Brasília, a Síndrome de Ehlers-Danlos é uma condição hereditária incurável que afeta o tecido conjuntivo, estrutura responsável por dar sustentação, elasticidade e firmeza ao corpo. Seus efeitos podem ser sistêmicos, comprometendo o funcionamento dos sistemas musculoesquelético, cardiovascular, gastrointestinal e neurológico.
Entre os sintomas mais comuns estão: dores crônicas, fadiga intensa, hipermobilidade das articulações, dificuldades motoras, fragilidade da pele, distúrbios vasculares e neurológicos.
O subtipo mais prevalente é o hipermóvel, uma condição multissistêmica, complexa e crônica, que exige o acompanhamento multiprofissional. "O tratamento das disfunções do tecido conjuntivo requer uma equipe multidisciplinar, com fisiatras, fisioterapeutas, geneticistas, cardiologistas, neurologistas, nutricionistas, psicólogos, psiquiatras e médicos da dor. Cada especialista contribui para o controle da dor, estabilidade muscular, saúde emocional e prevenção de complicações sistêmicas, oferecendo suporte integral ao paciente", explica a especialista.
Já o subtipo vascular (SEDv) é considerado o mais grave, devido às suas potenciais complicações fatais. Nesse quadro, o tecido conjuntivo das paredes dos vasos sanguíneos e órgãos internos é extremamente frágil, podendo levar a rupturas arteriais, perfurações intestinais e morte súbita. Em casos de alto risco, recomenda-se evitar traumas, fazer exames regulares de imagem, controlar a pressão arterial e, eventualmente, utilizar betabloqueadores.
Conexão com a Síndrome de Taquicardia Postural Ortostática
A Síndrome de Taquicardia Postural Ortostática (POTS) é uma condição de desregulação do sistema nervoso autônomo, responsável por controlar funções involuntárias do corpo, como batimentos cardíacos e pressão arterial. Ela é caracterizada por um aumento anormal da frequência cardíaca quando a pessoa fica em pé, sem queda significativa da pressão arterial. Esse quadro provoca sintomas como tontura, palpitações, fadiga intensa, náuseas, visão turva e sensação de desmaio iminente.
"Embora ainda pouco conhecida, a POTS tem ganhado atenção por sua forte associação com a Síndrome de Ehlers-Danlos hipermóvel (SEDh). Estudos apontam que até 25% dos pacientes com POTS também apresentam SEDh, o que sugere uma ligação direta entre a fragilidade do tecido conjuntivo e a dificuldade do corpo em manter o retorno venoso ao se levantar", esclarece o neurologista Welber Oliveira, da Clínica CEHD.
Segundo ele, as causas da POTS ainda estão sendo investigadas, mas há três principais hipóteses: uma resposta autoimune desencadeada por infecções virais (como a COVID-19), uma hiperatividade do sistema nervoso simpático, e uma neuropatia autonômica.
Apesar de não haver cura definitiva, o tratamento é possível e pode melhorar muito a qualidade de vida dos pacientes. Ele inclui mudanças no estilo de vida (aumentar a ingestão de líquidos e sal, uso de meias compressivas, recondicionamento físico), além de medicamentos que ajudam a controlar os sintomas. O acompanhamento médico deve ser individualizado e, muitas vezes, envolve uma equipe multidisciplinar, incluindo cardiologistas, neurologistas, fisiatras e reumatologistas.
Prisão preventiva
Nesta quarta-feira (4/6), o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), acolheu o pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR) e decretou a prisão preventiva da deputada federal Carla Zambelli (PL-SP), que deixou o país em 25 de maio. Além da ordem de prisão, o magistrado impôs diversas restrições à parlamentar, como o bloqueio de passaporte, bens, contas bancárias, cartões de crédito, redes sociais, entre outras medidas.
Zambelli deixou o Brasil após ser condenada pela Primeira Turma do STF a 10 anos e oito meses de reclusão por invasão aos sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e inserção de documentos falsos, em 2023.
Recentemente, a parlamentar afirmou estar nos Estados Unidos, onde estaria realizando tratamento médico para a Síndrome de Ehlers-Danlos, e manifestou intenção de se mudar para a Itália
Além da SED e da POTS, a deputada informou fazer uso de medicamentos para tratar depressão.
“Estou reunindo vários laudos médicos, e todos são unânimes em afirmar que eu não sobreviveria em regime prisional. Pretendemos apresentar essa documentação no momento oportuno”, declarou Zambelli após a decisão do STF.
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