Política / Justiça
Governador afastado e primeira-dama percorreram quase quatro voltas ao mundo em viagens internacionais
Wanderlei Barbosa e Karynne Sotero foram afastados pelo STJ por suspeita de corrupção; levantamento aponta nove viagens do governador e oito da primeira-dama desde 2022
17/09/2025
19:15
G1
DA REDAÇÃO
Wanderlei Barbosa e Karynne Sotero durante viagem a Israel, em maio de 2025 — Foto: Divulgação/ Consórcio Brasil Central (BrC)
Um levantamento feito pelo g1 e pela TV Anhanguera revelou que o governador afastado do Tocantins, Wanderlei Barbosa (Republicanos), e a primeira-dama Karynne Sotero, realizaram juntos viagens internacionais que somam mais de 148 mil quilômetros, o equivalente a 3,71 voltas em torno da Terra. Desde que assumiu o governo, há três anos e meio, Wanderlei saiu do Brasil nove vezes, sendo acompanhado pela esposa em oito ocasiões.
Ambos foram afastados dos cargos por 180 dias no último dia 3 de setembro, por decisão do ministro Mauro Campbell do Superior Tribunal de Justiça (STJ), durante a segunda fase da Operação Fames-19, que investiga supostos desvios de recursos na compra de cestas básicas durante a pandemia.
A assessoria do casal afirmou que todas as viagens foram feitas a trabalho, registradas em Diário Oficial e dentro da legalidade. Como exemplo de resultados, citou o acordo de crédito de carbono com a empresa Mercuria, assinado na Suíça em 2024, que teria rendido R$ 20 milhões aos cofres estaduais, com previsão de mais R$ 120 milhões nos próximos anos.
Outro destaque foi a viagem à Estônia, que teria permitido avanços na digitalização de serviços públicos no Tocantins.
Entre as agendas, o casal participou de:
Zurique (Suíça) em janeiro de 2025;
Tel Aviv (Israel) em maio de 2025, onde presenciaram mísseis sendo interceptados;
Marrakech (Marrocos) em julho de 2025, para evento sobre agronegócio e segurança alimentar;
Espanha, Estônia e Suíça em maio de 2023, em fórum sobre transformação digital.
Além disso, Karynne viajou sozinha à Espanha em março de 2025, acompanhando estudantes em intercâmbio. Sua presença foi alvo de críticas após aparecer em viagem usando roupas de grife.
Segundo dados do Siafi, entre fevereiro de 2024 e agosto de 2025, Karynne recebeu cerca de R$ 80 mil em diárias como secretária extraordinária de Participações Sociais, sem incluir passagens e hospedagens.
O vice-governador Laurez Moreira (PSD), que assumiu o governo após o afastamento, criticou os gastos:
“O governador deve viajar quando for uma viagem produtiva, que traga recursos e benefícios para o Estado. Não para fazer turismo internacional com amigos.”
Para evitar a transferência temporária de poder ao vice, Wanderlei conseguiu aprovar em 2024 a chamada “PEC do Apego”, que lhe permitia continuar no cargo mesmo durante viagens internacionais.
A Polícia Federal aponta que aliados próximos do governador, incluindo suspeitos de atuar como lobistas de propina, reclamavam das ausências frequentes do casal. Conversas interceptadas indicam que Karynne Sotero teria facilitado pagamentos a credores dispostos a pagar propina.
A Operação Fames-19 investiga crimes de peculato, corrupção passiva, lavagem de dinheiro, fraude em licitação e organização criminosa. O prejuízo estimado aos cofres públicos passa de R$ 73 milhões, em contratos para fornecimento de cestas básicas e frangos congelados. Parte dos valores teria sido ocultada por meio da compra de gado, imóveis de luxo e pagamento de despesas pessoais.
Em nota, Wanderlei e Karynne reiteraram que todas as viagens tiveram caráter institucional e trouxeram resultados práticos ao Tocantins. Já o presidente da Assembleia Legislativa, Amélio Cayres (Republicanos), e a deputada Cláudia Lelis (PV), que também integraram comitivas internacionais, defenderam suas participações, alegando compromissos oficiais em temas como meio ambiente, reflorestamento e desenvolvimento sustentável.
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