Política / Justiça
PL da Dosimetria pode antecipar saída de condenados por coação, incêndio e crimes com violência
Proposta aprovada na Câmara reduz tempo mínimo para progressão de regime e gera preocupação sobre efeitos além dos atos golpistas
10/12/2025
09:30
DA REDAÇÃO
©DIVULGAÇÃO
O Projeto de Lei da Dosimetria, aprovado na madrugada desta quarta-feira (18) pela Câmara dos Deputados por 291 votos a 148, pode provocar impactos diretos na progressão de regime de condenados por diversos crimes violentos, e não apenas sobre os envolvidos nos atos golpistas de 8 de janeiro. O texto segue agora para análise do Senado Federal.
Um estudo técnico elaborado por três partidos políticos aponta que a proposta tem potencial de beneficiar também condenados por coação no curso do processo, incêndio doloso, resistência contra agentes públicos, atentado contra a segurança de transporte e crimes contra a organização do trabalho, entre outros.
Atualmente, a legislação determina que condenados por crimes cometidos com violência ou grave ameaça só podem progredir de regime após o cumprimento de 25% da pena, no caso de réus primários.
Com o novo projeto, esse percentual é reduzido para 16% da pena, mesmo em situações que envolvam violência ou grave ameaça, o que antecipa significativamente o acesso ao regime semiaberto.
A progressão de regime é o mecanismo que permite ao preso migrar do regime fechado para o semiaberto, ou do semiaberto para o aberto, após cumprir parte da pena e apresentar bom comportamento carcerário.
A proposta tem relação direta com a situação do ex-presidente Jair Bolsonaro, condenado pelo Supremo Tribunal Federal a 27 anos e 3 meses de prisão, por cinco crimes, incluindo:
Abolição violenta do Estado Democrático de Direito
Tentativa de golpe de Estado
Ambos exigem, pela legislação atual, cumprimento mínimo de 25% da pena para progressão. Com a nova regra, Bolsonaro poderia pleitear mudança de regime após cumprir apenas 16% da pena.
Para tentar restringir os efeitos da proposta, o relator do projeto, Paulinho da Força (Solidariedade-SP), incluiu no texto a proibição de benefício para crimes violentos previstos nos capítulos 1 e 2 do Código Penal, que tratam de:
Crimes contra a pessoa
Crimes contra o patrimônio
Ainda assim, permanecem dentro do alcance do projeto crimes como:
Coação no curso do processo (ameaça a testemunhas)
Atentado contra a segurança do transporte
Incêndio doloso
Crimes contra a organização do trabalho
Impedir trabalho com violência
Paralisação mediante coação
Invasão violenta de estabelecimentos
O líder do PSB na Câmara, deputado Pedro Campos, criticou duramente o texto aprovado:
“A medida que dizem servir para beneficiar Bolsonaro e o pessoal do 8 de Janeiro — o que já seria um absurdo — pode servir para muita gente que está presa hoje ou que ainda vai cometer crime passar menos tempo no regime fechado”, afirmou.
Já o relator, Paulinho da Força, rebateu as críticas:
“Essa interpretação está errada. Apenas os envolvidos na trama golpista serão afetados”, declarou.
Mesmo entre parlamentares do PL, partido de Bolsonaro, há preocupação com o alcance da medida. Deputados da legenda afirmaram que procuraram o relator para alertar que outros condenados por crimes violentos também poderão ser beneficiados, com saídas antecipadas do regime fechado.
O texto segue agora para apreciação no Senado. Caso seja aprovado sem alterações, a nova regra passa a valer para todos os condenados que se enquadrarem nos critérios, ampliando significativamente o impacto do projeto sobre o sistema penal brasileiro.
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