TJTO
Justiça para Todos: Presidente do TJTO afirma que registro civil para indígenas garante pleno exercício da cidadania na região da Ilha do Bananal
21/06/2022
17:25
SAMIR LEÃO
©Rondinelli Ribeiro
Emissão da 1ª e 2ª via da Certidão de Nascimento, Casamento e Óbito; 1ª e 2ª via da Carteira de Identidade (RG) e correção dos registros, pela via administrativa, por exemplo, para fazer constar nos seus assentamentos itens, como o nome indígena e etnia, foram alguns dos serviços que abriram, nesta segunda-feira (20/6), as ações do Projeto Piloto "Justiça para Todos - Cidadania Indígena", uma iniciativa do Tribunal de Justiça do Tocantins (TJTO) e da Corregedoria-Geral da Justiça, que segue até a próxima sexta-feira (24/6), na sede da Escola Canuanã da Fundação Bradesco, localizada na beira do Rio Javaé, no município de Formoso do Araguaia.
Foi graças a essa ação que a indígena da etnia Javaé, Sheurian Dionísia Dimaru Santana Javaé virou Sheuria Dimaru Dionísia Santana Javaé. A filha do casal Janildo Wassari Javaé e Lucilância Dionísia Santana tinha o nome diferente no seu primeiro registro e conseguiu a mudança no primeiro dia da ação. A situação foi a mesma que a da filha de Michael Mauare Javaé. Na sua primeira certidão, o nome da menina estava escrito de forma equivocada. Em vez de Leticia Inaruki Javaé, constava no documento Letícia Hinaruki Javaé. A certidão foi modificada e uma nova emitida durante a ação.
“Essa é uma ação extremamente importante para nossas comunidades indígenas da Ilha do Bananal, do nosso povo Javaé, pois há muito tempo a gente vinha na busca por esse apoio. Era um anseio de toda comunidade, dos caciques e dos líderes, porque muita gente, muita gente mesmo não tem documentação na aldeia e para tudo que vamos fazer hoje precisamos de documentos. E o indígena também precisa, pois é cidadão como qualquer outro”, comentou o cacique Micael Weheriá Vinicius Batista Javaé, da Aldeia Boa Esperança, localizada na Ilha do Bananal.
O cacique Javáe também comentou sobre as dificuldades dos indígenas para conseguir a emissão dos documentos. “Primeira dificuldade era a logística, pois nossas aldeias ficam distantes da cidade e no período de chuva fica intransitável. A burocracia é outra dificuldade na hora de emitir os documentos, pois temos que ir a várias locais diferentes e com a dificuldade das informações muitos acabam desistindo. Além da falta de recursos, muitas vezes para tirar uma foto, por exemplo”, explicou.
Parceria pela cidadania
O projeto, que tem apoio de vários entes públicos e atenderá indígenas das aldeias da região da Comarca de Formoso do Araguaia, é um braço do programa Justiça para Todos, que encabeça a gestão do presidente do TJTO, desembargador João Rigo Guimarães, e visa garantir direitos fundamentais às pessoas em situação de vulnerabilidade social, entre os quais o acesso aos serviços de documentação civil dos povos indígenas.
Direito em vez de favor
“O registro civil para a população indígena não tira deles a sua cultura. Pelo contrário, o registro garante a eles o exercício pleno da cidadania, regride a invisibilidade social e faz valer os diretos de uma democracia. Esse é um compromisso social de grande envergadura para o Poder Judiciário do Tocantins. É um braço do programa Justiça para Todos e espero que possamos levar para outras comarcas do estado. Estou feliz em vivenciar esse momento, pois não estamos aqui fazendo um favor, isso é um direito institucional de vocês e uma obrigação nossa”, destacou o presidente do TJTO, lembrando ainda que a ação conta com a parceria da Associação dos Registradores Civil do Tocantins (Arpen-TO), Fundação Nacional do Índio (Funai-TO), Prefeitura Municipal de Formoso do Araguaia, Cartório de Registro Civil da Comarca de Formoso do Araguaia, Defensoria Pública Estadual, Ministério Público Estadual e Federal, Universidade Federal do Tocantins, Secretaria de Segurança Pública e Fundação Bradesco-Fazenda Canuanã.
Promoção da cidadania
Presente no evento, a corregedora-geral da Justiça, desembargadora Etelvina Maria Sampaio Felipe, destacou a importância da parceria e pontuou que o Poder Judiciário tocantinense tem atuado de maneira enérgica em busca da promoção da cidadania.
“O Poder Judiciário do Tocantins tem promovido e participado de ações que visam garantir o acesso à cidadania, à dignidade e à inclusão social. Não seria diferente com os povos indígenas, assim como está estabelecido no programa Justiça para Todos, do presidente João Rigo. Esse projeto que iniciamos aqui hoje, graças à parceria de inúmeros entes, demonstra mais uma vez a preocupação do Judiciário em ser um incentivador do pleno exercício da cidadania. Os indígenas também necessitam deste apoio que envolve cidadania. A falta de registro não os deixa acessar, por exemplo, os programas de assistência social. Espero que possamos avançar cada vez mais nessa área”, comentou a desembargadora.
Dívida histórica
Para o conselheiro do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) Márcio Luiz Freitas, a iniciativa é sem dúvida uma demonstração de justiça social e respeitosa com a população indígena, que precisa ser incluída em mais ações de acesso à cidadania, sem deixar de perder sua identidade. “Uma iniciativa desse porte só pode funcionar com a participação de muitos parceiros. Precisamos reconhecer que temos uma dívida histórica com a população indígena. Temos que reconhecer essa dívida e agir por meio de políticas públicas, como a que vocês começaram a construir aqui hoje. Uma iniciativa que ajuda a conferir cidadania e respeita a identidade dos indígenas, além de garantir aos povos originários a possibilidade de exercício de direitos no âmbito da sociedade envolvente. Parabenizo o Tribunal de Justiça do Tocantins pela iniciativa piloto e espero que o projeto avance para mais comarcas”, comentou.
Judiciário inclusivo
Com a expressão indígena “Auíri”, muito comum na região e que significa algo como tudo de bom para todos, o juiz Wellington Magalhães, que, como vice-presidente da Associação dos magistrados do Estado do Tocantins (Asmeto), representou a presidente, juíza Odete Almeida, ressaltou que o Poder Judiciário tocantinense tem se mostrado efetivamente preocupado com a inclusão e a com diversidade.
Segundo o magistrado, ações como a da Escola Canuanã representam na prática o reconhecimento aos povos indígenas, o respeito a sua organização social, aos seus costumes e tradições, além de garantir um direito a autodeterminação dos povos.
Comarca Piloto
Para o juiz diretor do Foro da Comarca de Formoso do Araguaia, Valdemir Braga de Aquino Mendonça, a ação pode colocar a cidade dentro do marco histórico em um projeto que visa fomentar o exercício pleno da cidadania.
“A comarca de Formoso do Araguaia se sente prestigiada e honrada por ser escolhida como o marco inicial dentro desse projeto grandioso que vem ao encontro ao Programa Justiça para Todos. Podemos dizer que essa ação é apenas uma dos braços de atuação não só do Tribunal, mas também da nossa Corregedoria, que tem dado total apoio a essas ações. A gente tem a expectativa e o anseio de que esse projeto seja um marco divisor, que ele fique de certa forma para a história da própria comarca, como um acontecimento transformador na vida da comunidade indígena, que é a principal protagonista de todo esse trabalho de inclusão social desenvolvido pelo Tribunal, Corregedoria e demais órgãos”, ressaltou o magistrado.
Apoio
Tanto o prefeito de Formoso do Araguaia, Heno Rodrigues da Silva, quanto o presidente da Associação dos Registradores Civis de Pessoas Naturais do Tocantins (ARPEN), Ney Querido, ressaltaram a importância do trabalha feito entre os órgãos para que o evento conseguisse atender a comunidade indígena da região.
Fundação Bradesco
Durante a visita à Escola de Canuanã/Fundação Bradesco, acompanhado do diretor da unidade, Ricardo Figueiredo, o desembargador João Rigo conheceu as dependência da instituição e viu de perto os principais espaços da unidade, que conta com mais de 200 funcionários e recebe 830 alunos, entre a educação básica, ensino médio e cursos técnicos profissionalizantes.
Presenças
Além de servidores do TJTO e da Secretaria de Segurança Pública do Tocantins (SSP/TO), também participaram da cerimônia a secretária de Estado do Meio Ambiente e Recursos Hídricos Miyuki Hyashida, que representou o governador Wanderlei Barbosa; o presidente da Câmara Municipal de Formoso do Araguaia, vereador Felipe Souza Oliveira; o juiz auxiliar da Presidência do TJTO Manuel de Faria Reis Neto; o juiz auxiliar da Corregedoria-Geral da Justiça, Roniclay Alves de Morais; a chefe de gabinete da Presidência do TJTO, Kênia Cristina de Oliveira; e ainda os diretores Gizelson Monteiro, Financeiro; Administrativo, Ronilson Pereira; Comunicação, Tião Pinheiro; Tecnologia da Informação, Ernandes Rodrigues; Controladoria Interna, Sidney Araújo Souza; Wallson Brito da Silva, Judiciário; Antonio Rezende, Gestão de Pessoas; Rogério José Canalli, Infraestrutura e Obras; João Ornato Benigno, Gestão Estratégica, Estatística e Projetos do TJTO; e o coronel Presley, Assessoria Militar.
E também o promotor de Justiça Adailton Saraiva Silva, que representou o procurador-geral de Justiça, Luciano Casaroti; a vice-presidente da Coordenação Nacional do Exame de Ordem, Kelen Pedreira do Vale, que representou o presidente da OAB-TO, Gedeon Pitaluga Júnior; o coordenador do Núcleo Especializado de Questões Étnicas e Combate ao Racismo, Arthur Luiz Pádua Marques, que representou a Defensora Pública-Geral, Estellamaris Postal; o diretor-geral do TJTO, Jonas Demóstene Ramos; e a suboficial do Cartório de Registo Civil de Formoso, Maria Aparecida Macedo Tavares Oliveira.
Os comentários abaixo são opiniões de leitores e não representam a opinião deste veículo.
Leia Também
Leia Mais
Gilmar Mendes vota pela inconstitucionalidade do marco temporal para terras indígenas
Leia Mais
Presidente da CCJ classifica PL da Dosimetria como “vergonha” e afirma que Senado vai barrar proposta
Leia Mais
Alcolumbre pauta PL da Dosimetria no Senado mesmo sob pressão por adiamento
Leia Mais
Ecofuturo completa 26 anos com atuação que une conservação ambiental e transformação social
Municípios