ASSEMBLEIA LEGISLATIVA
Deputados do TO discutem projeto para votar dois mandatos da presidência de uma única vez; entenda
Medida é considerada polêmica e está sendo chamada de PEC da Eternidade. Objetivo seria dar mais 'estabilidade' ao governo; Jurista analisa diz que projeto é inconstitucional.
12/12/2022
13:15
G1
Patrício Reis e Ana Paula Rehbein
Plenário da Assembleia Legislativa do Tocantins — Foto: Ascom AL/Divulgação
Os deputados devem votar nesta semana uma proposta para alterar a Constituição Estadual e mudar o formato de escolha da mesa diretora da Assembleia Legislativa do Tocantins. A proposta é para que os parlamentares possam eleger a presidência da casa pelos próximos dois anos e realizar no mesmo dia a eleição que aconteceria em 2024. Ou seja, seriam votados dois biênios de uma única vez.
A medida é considerada polêmica e está sendo chamada de PEC da Eternidade.
Atualmente a AL precisa fazer uma votação a cada dois anos para eleger a presidência e a mesa diretora. Se o projeto for aprovado a eleição do biênio seguinte seria antecipada, para acompanhar o tempo de gestão do governador.
A TV Anhanguera apurou com diversos deputados que essa medida está sendo pensada para dar “estabilidade” ao Estado. Já que os mandatos de governadores têm sido interrompidos com frequência devido a ações da Justiça Eleitoral e da Polícia Federal.
Desde 2006, nenhum governador escolhido em eleições gerais cumpriu o mandato integralmente no Tocantins. Foram quatro mandatos interrompidos e substituídos por governos tampões. O último foi o próprio governador Wanderlei Barbosa (Republicanos), que assumiu o cargo após o afastamento de Mauro Carlesse (Agir).
“Isso evitaria manobras, por exemplo, que quase levaram ao impeachment do governador Mauro Carlesse, porque o governo estaria protegido [com aliados na mesa diretora]” disse um parlamentar à reportagem.
A proposta polêmica foi feita pelo deputado Ricardo Ayres (Republicanos) e conta com assinatura de outros nove parlamentares. A previsão é de que a PEC seja votada ao longo desta semana.
Proposta inconstitucional
O advogado e professor Rafael Godinho, especialista em direito constitucional, analisou o projeto a pedido do g1. Segundo ele a proposta viola a Constituição Federal e o formato da votação não poderia ser alterado pelos deputados.
“Caso seja admitida, a medida violará, diretamente, o art. 57, §4º, da Constituição Federal. Essa norma de preordenação de um Poder da República e de reprodução obrigatória, intimamente ligada aos princípios republicano e democrático, por simetria federativa, limita a autonomia federativa e deve ser aplicado em relação aos órgãos diretivos das Casas Legislativas dos Estados da Federação. Portanto, o citado dispositivo não pode ser modificado pela Assembleia Legislativa do Estado do Tocantins”, analisou.
O especialista explica que a votação a cada dois anos é um mecanismo para evitar perpetuação de uma mesma pessoa ou grupo no poder.
“O mandato de dois anos para a Mesa Diretora tem o objetivo constitucional de impedir a perpetuação de parlamentares e certos grupos em vagas de cúpula do Legislativo sendo vocacionada, portanto, a assegurar o pluralismo político (CF, art. 1º, V). Caso seja violado, cabe Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) para evitar lesão a preceito fundamental, especialmente os princípios republicano, pluralismo político e democrático.”
Semana agitada na AL
A semana promete ser de votações importantes na Assembleia Legislativa do Tocantins. Além desta PEC, os deputados também devem analisar três pedidos de empréstimos enviados pelo governo que chegam R$ 1,7 bilhão.
Na próxima sexta-feira (16) será realizada também uma audiência pública para discutir uma proposta de reforma da previdência dos servidores públicos estaduais. A medida também é polêmica e tem sido alvo de muita reclamação das categorias.
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