Economia / Direitos do Consumidor
Banco pode descontar dívida de consignado CLT de conta-corrente ou investimentos, mesmo após demissão
Cláusulas contratuais autorizam cobrança direta caso garantias como FGTS e multa rescisória não quitem a dívida; especialistas alertam para taxas altas e riscos de venda casada
17/04/2025
20:00
DA REDAÇÃO
©DIVULGAÇÃO
Trabalhadores com empréstimo consignado vinculado ao regime CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) devem ficar atentos: bancos estão autorizados a descontar valores diretamente de contas-correntes e investimentos em caso de inadimplência, especialmente quando o empregado é demitido e as garantias contratuais não cobrem o saldo devedor.
Segundo levantamento da reportagem com base em contratos de três grandes instituições financeiras — Caixa Econômica Federal, Nubank e Santander —, todos preveem cláusulas que autorizam o débito em qualquer conta de titularidade do cliente, inclusive conjunta ou de investimentos, caso as garantias padrão (como FGTS e multa rescisória) sejam insuficientes.
O consignado CLT tem como principal característica o desconto automático na folha de pagamento. No entanto, em caso de demissão, os pagamentos mensais são suspensos até que o trabalhador consiga novo emprego. A Febraban (Federação Brasileira de Bancos) confirma esse modelo, mas ressalta que cada banco pode estabelecer cláusulas adicionais.
Essas garantias costumam incluir:
30% a 35% das verbas rescisórias
10% do saldo do FGTS
100% da multa rescisória de 40% do FGTS
Se essas garantias não quitarem a dívida, os valores podem ser debitados diretamente de contas do cliente.
Caixa Econômica Federal: permite desconto em qualquer conta de titularidade do cliente, inclusive conjunta, em caso de inadimplência.
Nubank: autoriza débito de contas e aplicações internas ao banco, incluindo juros.
Santander: prevê desconto automático de conta-salário e corrente; se o saldo for insuficiente, o banco pode usar o cheque especial.
O Nubank confirmou que a prática é comum no mercado e ocorre somente em contas da própria instituição. Já Caixa e Santander não responderam até a publicação.
A educadora financeira Cíntia Senna, da Dsop Educação Financeira, destaca que o consignado CLT pode ser mais arriscado que vantajoso, sobretudo por altas taxas e risco de endividamento recorrente.
“Mesmo com desconto em folha, a responsabilidade final é do empregado. Se a empresa não pagar, ele ainda pode ter que arcar com multas e juros”, afirma.
Além disso, os juros podem chegar a mais de 30% ao ano, o que supera o teto do consignado para beneficiários do INSS, que atualmente é de 1,85% ao mês.
Um empréstimo de R$ 6.000 parcelado em 18 vezes resulta em prestações de R$ 437,73 ao mês, totalizando R$ 7.879,14 — valor que não pode ultrapassar 35% do salário bruto.
“Se a pessoa não reajustar seus gastos, pode acabar pegando outro empréstimo para cobrir o primeiro”, alerta Cíntia.
Ela também orienta os consumidores a verificar se há taxas ou seguros embutidos indevidamente, prática considerada venda casada. Segundo a especialista, somente o valor do empréstimo e o IOF devem constar no contrato, e o cliente pode solicitar o cancelamento de serviços adicionais, como seguros prestamistas.
Desde seu lançamento, o consignado CLT já é oferecido por grandes instituições como Banco do Brasil, Caixa, Bradesco, Itaú, Nubank, BTG Pactual, Sicoob, Agibank e, em breve, Santander. A taxa de juros varia entre 1,46% e 3,17% ao mês, dependendo do banco.
Atualmente, o empréstimo só pode ser contratado via Carteira de Trabalho Digital (CPTS Digital). A partir de 25 de abril de 2025, será liberado também por aplicativos e canais próprios das instituições financeiras.
O Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) estima que 35 instituições já operam com o consignado CLT.
Os comentários abaixo são opiniões de leitores e não representam a opinião deste veículo.
Leia Também
Leia Mais
Bolsonaro não deve comparecer à abertura do julgamento da trama golpista, dizem interlocutores
Leia Mais
PGR defende manutenção da prisão de Braga Netto no STF
Leia Mais
William Bonner anuncia saída do ‘Jornal Nacional’ após 29 anos; César Tralli assume ao lado de Renata Vasconcellos
Leia Mais
Damares diz que Bolsonaro está “sereno” após visita em prisão domiciliar
Municípios