Durante discurso na Cúpula do Clima, em Belém (PA), nesta sexta-feira (7), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que os conflitos armados recentes — especialmente a guerra entre Rússia e Ucrânia — estão comprometendo os esforços globais de redução das emissões de gases do efeito estufa. Segundo ele, os gastos crescentes com armamentos em detrimento da ação climática representam uma ameaça ao futuro do planeta.

“O conflito na Ucrânia reverteu anos de esforços para a redução da emissão de gases do efeito estufa e levou à reabertura de minas de carvão. Gastar com armas o dobro do que destinamos à ação climática é pavimentar o caminho para o apocalipse climático. Não haverá segurança energética em um mundo conflagrado”, declarou o presidente.

Crise climática e desigualdade energética

O evento, que reúne líderes internacionais e representantes da Organização das Nações Unidas (ONU), antecede a COP30, marcada para 10 a 21 de novembro, também em Belém. A conferência discute transição energética justa e o cumprimento das metas do Acordo de Paris.

Lula destacou que a desigualdade energética impede o avanço sustentável de países pobres e emergentes:

“Dois bilhões de pessoas não têm acesso a combustíveis adequados para cozinhar. Sessenta e seis milhões dependem de lamparinas e geradores a diesel, e 200 milhões de crianças estudam em escolas sem luz elétrica. Sem energia, não há saúde, agricultura moderna nem inclusão digital”, afirmou.

O presidente também criticou o sistema financeiro global, acusando-o de continuar financiando o setor de petróleo e gás. Segundo ele, apenas em 2023, os 65 maiores bancos do mundo destinaram US$ 869 bilhões ao setor, enquanto a participação dos combustíveis fósseis na matriz energética global recuou apenas de 83% para 80% desde o Acordo de Paris.

Fundo climático brasileiro

Durante o discurso, Lula anunciou a criação de um fundo nacional para canalizar lucros do setor de petróleo e gás em investimentos em energia renovável. O objetivo, segundo ele, é promover uma transição energética justa e equitativa, especialmente para os países do Sul Global.

“Direcionar parte dos lucros da exploração de petróleo para financiar o enfrentamento da mudança do clima é um caminho válido. O Brasil estabelecerá um fundo dessa natureza para garantir justiça climática”, afirmou.

O presidente também cobrou soluções para as dívidas externas impagáveis de países em desenvolvimento e defendeu mecanismos de troca de dívidas por investimentos em mitigação climática.

Chamado global por ação

Ao encerrar sua fala, Lula apelou aos líderes internacionais pela implementação das metas da COP28, realizadas em Dubai, como triplicar a energia renovável e dobrar a eficiência energética até 2030.

“Os cientistas já cumpriram seu papel. Agora, os líderes precisam decidir se o século 21 será lembrado como o da catástrofe climática ou como o momento da reconstrução inteligente”, concluiu.